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NEWSLETTER nº6 |  CÁTEDRA CASCAIS INTERARTES   |  Maio 2019
 
 
1.
NOTA PRÉVIA

O primeiro trimestre de 2019 foi testemunha de um evento relevante no percurso que a Cátedra Cascais Interartes tem vindo a fazer desde a sua criação; refiro-me ao lançamento do primeiro número da Revista electrónica Cascais Interartes/Cascais Crossroad of the Arts.
Tal como era referido no Editorial que aqui transcrevemos, a Revista corresponde ao espírito da Cátedra, pelo que pretende ser um espaço de encontro e reflexão em torno das personalidades que lhe servem de impulso e a uma prática de diálogo entre diferentes formas de expressão criativa.
Deste modo, a estrutura deste primeiro número que pretendemos ver prolongada nos que se lhe seguirão, reflecte uma pluralidade de abordagens analíticas, de meditações estéticas e de exercícios criativos, no passado e no presente.

Observemos, então, elipticamente essa estrutura.
Na secção que designámos Portfólio, reunimos ensaios em torno de um autor ou tópico, neste caso Ana Hatherley, observada a partir de análises de Ana Marques Gastão, Elisabete Marques e Maria do Rosário Monteiro, aos quais se junta um depoimento do compositor João Madureira.
A secção Poéticas I revisita criadores que integram o núcleo de personalidades da Cátedra, sendo neste número dedicada a Mário-Henrique Leiria, de quem reproduzimos originais devido à gentileza de João Abel da Fonseca que acedeu ainda a enquadrá-los num contexto familiar. Os nossos agradecimentos estendem-se a José António Silva, autor das fotografias daqueles originais.
A secção Poéticas II apresenta textos inéditos de autores contemporâneos, neste caso um conto de Howard Wolf, professor universitário e escritor que, desde o início, abraçou o projecto da Cátedra e que integra o Conselho Editorial desta Revista.
A secção Arte do Tempo apresenta meditações analíticas sobre intelectuais de referência ligados a Cascais. Neste número a historiadora Ana Paula Menino Avelar aborda a obra que José Manuel Tengarrinha, recentemente desaparecido, dedicou à imprensa em Portugal.
A secção Quadros de uma exposição pretende dar a conhecer segmentos de exposições que passaram pelo Centro Cultural de Cascais. Neste número é o caso da obra de Ted Witek, enquadrada por Hilda Yasseri, curadora da exposição Norte Sul, Este Oeste.
A secção Brisas retoma a vertente ensaística, embora sem necessariamente pressupor uma unidade temática. Tal não sucede, porém, com os ensaios de Raquel Morais, Amândio Reis e Teresa Bartolomei, decorrentes do ciclo de cinema que decorreu em 2018 sob o tema “O Escritor na Sala de Cinema”.
Por fim, a secção Auroras estéticas exibe textos que meditam sobre o espaço entre a arte e os contextos históricos. Neste número apresentamos um ensaio de Mário Avelar sobre o filme Jackie, de Pablo Larraín, suscitado por uma conferência sobre o centenário de JFK, inicialmente apresentada no Museu Castro Guimarães, na qual participou também Howard Wolf.
Como se depreende do que acabámos de expor, pretendemos que esta Revista funcione como um solo de coabitação entre o rigor ensaístico e a inovação nas suas mais diferentes formas de expressão estéticas.

Caso ainda não tenha tomado contacto com este primeiro número, recordamos que a ele pode aceder através do link colocado no inicio desta Newsletter.
Para que possa ter uma percepção mais clara dos textos em causa, deixamos-lhe os respectivos resumos.
Esta Newsletter encerra com uma divulgação da conferência dedicada a Ana Hatherly que terá lugar a 29 de Junho nas instalações do Centro Cultural de Cascais, e com uma chamada de trabalhos para o sítio em construção no âmbito do Projecto “Mãos Oblíquas”.

 
2.
«JOSÉ MANUEL TENGARRINHA E A CIVILIZAÇÃO
DO JORNAL EM PORTUGAL: A NOVA HISTÓRIA
DA IMPRENSA PORTUGUESA - DAS ORIGENS A 1865»

por ANA PAULA MENINO AVELAR

Seminal na descodificação e compreensão de um tempo longo da “civilização do jornal”, é o trabalho de José Tengarrinha sobre a História da imprensa em Portugal.
O seu estudo participa de um dos actuais campos de investigação, o das relações entre a literatura e a escrita jornalística. Importa ter em atenção o seu percurso biográfico, o qual se encontra intimamente ligado à actividade jornalística e aos estudos históricos.
Ainda durante a sua intermitente frequência do curso de licenciatura, devido à sua intervenção política, interessou-se pela História oitocentista, a qual seria um dos seus tópicos de investigação ao longo da sua carreira académica.
O trabalho em torno do aprofundamento do tema e a sua síntese investigativa culminou na redação da sua Nova História da Imprensa Portuguesa – Das origens a 1865, vinda a lume em 2013. Nela José Manuel Tengarrinha desenvolveu o seu trabalho anterior, delimitando logo na introdução o objecto agora revisitado.
 
3.
BREVE PÉRIPLO
PEL’
A CIDADE DAS PALAVRAS
por MARIA DO ROSÁRIO MONTEIRO
Este ensaio tem como objecto Tisanas, colectânea emblemática da produção literária de Ana Hatherly que se alteia como a criação da sua vida, como ela própria afirmou. Porque as assume como “itinerário de uma vida”, Ana Hatherly foi acrescentando Tisanas sem reescrever ou modificar as anteriores. Isso seria uma traição à concepção que as informa: serem uma “obra aberta”.
De modo a delimitar o objecto de análise, esta reflexão centra-se em algumas Tisanas recolhidas de A Cidade das Palavras, reunião das primeiras 222 Tisanas. Sugere-se haver uma intenção deliberada na composição das treze formas geométricas.
Dada a educação religiosa de Ana Hatherly, o seu conhecimento da mitologia cristã, do pensamento oriental e da simbologia em geral, o número, no contexto das Tisanas, remete para o que é parcial e relativo, incompleto e sempre inacabado, o que se repete na inutilidade, mas que não tem fim, apesar de periodicamente interrompido.
Neste treze, o quadrado negro é o centro, o elemento aglutinador.
O ensaio “termina” em aberto, com uma última Tisana, que expressa a atitude de Ana Hatherly perante a vida, a academia, as mentes “cultas”, a repugnância ao status quo instituído, seja ele qual for, porque a tendência será sempre a do silenciamento, da normalização, da promoção dos mais obedientes ou dos mais oportunistas. Nada como o riso para perturbar a ordem.
 
4.
«A. H.»
Testemunho do compositor
JOÃO MADUREIRA

Conheci a Ana Hatherly em 2003, no contexto de uma encomenda da Culturgest, por ocasião dos seus dez anos de actividade. Foi-me encomendada por António Pinto Ribeiro uma peça para orquestra de câmara para integrar um concerto encenado. Cedo me apercebi que estava perante alguém que nos diversos campos da sua produção artística nos mostra o quão intrinsecamente ligadas estão as várias artes — uma artista multidimensional, que implica a música e a pintura na escrita de um poema, como implica a escrita e a fala num desenho, não nos deixando habitar um só destes campos, mas obrigando-nos a descobrir o espaço da sua relação. A segunda vez que compus sobre texto de Ana Hatherly foi por ocasião do concerto comemorativo dos 40 anos do Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, em 2010. «Noite» para mezzo-soprano e 8 instrumentistas, foi escrito sobre o poema «Noite Canto-te Noite». A terceira vez que escrevi música a propósito de Ana Hatherly não foi já concretamente sobre textos dela, mas sim um ensaio de retrato, integrado num ciclo de estudos para piano intitulado «Estudos Literários - Retratos», em 2012.
O legado de Ana Hatherly — fica a sua presença; fica uma aguda consciência do seu tempo, tanto em relação ao período barroco que estudou como académica, como em relação ao tempo mecânico e tecnológico que habitava.
 
5. 
«
ANA HATHERLY E A ESCRITA EM CINEMA»
por ELISABETE MARQUES
A obra de Hatherly encontra-se intricadamente associada à exploração da dimensão visual da palavra escrita.
Primeiramente, surge inserida no movimento PO.EX, nas décadas de 60 e 70 do século XX, e depois num espaço singular de criação, em que convergem a caligrafia, a pintura, o desenho, a performance, entre outros.
Multifacetada, Hatherly não só soube reinventar as formas de escrever, como participou activamente na fundamentação teórica dos movimentos de vanguarda que integrou.
Realizou, para o efeito, pesquisas genealógicas e analíticas da poesia visual e da poesia experimental, testemunhadas em diversos volumes publicados. A autora procurará mostrar a escrita ao invés do escrito. Daí a incidência na tematização da relação entre escrita e pintura. A palavra é um signo pintado, e na qualidade de pintura interpela os sentidos, designadamente a visão, sem que isso signifique a ausência de pensamento ou de significado. Por essa mesma razão, Hatherly considera-se simultaneamente escritora e pintora.
Por outro lado, durante os seus estudos na London Film School, Ana Hatherly levou a cabo alguns exercícios cinematográficos. Entre eles, os filmes de animação (por vezes, qualificados de abstractos), nos quais aparecem figuras geométricas, sofrendo metamorfoses sucessivas de formato e, nalguns casos, de cor. A sequencialidade acelerada e a consequente ilusão de movimento do cinema parecem interessar à autora, pois através deles pode produzir ou realçar modos de ver os signos escritos pintados. Desde logo, o dispositivo fílmico exibe a interferência de uns signos sobre os outros.
 
6.
«ANAGREGORIANA»
por ANA MARQUES GASTÃO

Ana Hatherly emprega a linguagem da electrónica digital para encontrar uma definição do poeta, criador de metáforas – processo de substituição em que um termo é substituído por outro, o que, no fundo, significa transposição. Este conceito não pode ser dissociado, porém, da imagem gráfica de um codificador e de um descodificador que se assemelham aos quadrados mágicos.
O trabalho poético-visual que Ana Hatherly nos legou acompanha a história das ideias, das religiões, da mística e das artes, não só no sentido de uma erudição, mas de uma praxis conhecedora da pansemiótica cabalística, da arte combinatória e seus aspectos permutacionais, algo ao qual o conhecimento aprofundado do universo musical da ensaísta acrescenta mais do que o óbvio.
O texto-desenho na sua obra deve merecer uma aproximação hermenêutica que o tenha em conta como parte integrante de um sistema sígnico a estudar de modos múltiplos e também enquanto pulsão de um corpo em movimento entre os vários elementos – sobretudo o ar (o sopro), que tem uma velocidade. Podemos lê-lo em Mapas da Imaginação e da Memória e, noutros momentos, como uma sequência de ondas sonoras. Deste modo, ler o que não são letras senão em desvio, mas signos/ícones, torna-se numa dinâmica que representa a passagem de uma estrutura a outra, que desliza suavemente, sem asperezas.

 
7.
«MÁRIO-HENRIQUE LEIRIA: BREVES DADOS BIOGRÁFICOS.
A IMPORTÂNCIA DO MEIO FAMILIAR»
por JOÃO ABEL DA FONSECA
Investigador, ensaísta e académico, João Abel da Fonseca privou desde a infância com seu primo Mário-Henrique Leiria. É ele que, ainda criança, aparece na fotografia do casamento do escritor, juntamente com os seus pais. Neste texto Abel da Fonseca transmite um testemunho pessoal baseado no enquadramento daquela personalidade num contexto familiar remontando ao século XIX, das ruas de Lisboa a terras de África.

8.
«
ESCRITORES E SALA DE CINEMA»
por RAQUEL MORAIS
O ensaio parte da descrição que Barthes faz da sala de cinema como lugar da hipnótica e hipotética resolução de um desencontro entre um sujeito e as partes de si que desconhece, para analisar a imagem em movimento enquanto fundadora uma estética, modeladora de um modo de trabalho ou simples elemento de inspiração.
A partir deste enquadramento Raquel Morais apresenta o ciclo de cinema por si organizado no Centro Cultural de Cascais sob o título “O escritor na sala de cinema”, o qual convocou tanto filmes que influenciaram o imaginário dos escritores evocados, como filmes que nos permitiram revisitar a sua obra, iluminando-a.
Se podemos ver na figura do escritor um espectador particularmente propenso à acção, que age sobre aquilo que através do cinema lhe chega, essa relação pode tomar contornos muito diversos – a série de autores programados pretendeu precisamente dar conta dessa amplitude.

9.
«
REVIVER O FUTURO EM MANDERLEY:
ANA TERESA PEREIRA, ALFRED HITCHCOCK
E DAPHNE DU MAURIER»

por AMÂNDIO REIS

Neste ensaio sobre o diálogo entre escrita e cinema, Amândio Reis considera que o prefixo crucial do termo reescrita nunca remete em Ana Teresa Pereira, para um gesto simplificado do que nos estudos interartísticos contemporâneos se tem vindo a denominar “remediação”, pelo que se entenderia, neste caso, e num primeiro entendimento do fenómeno, a passagem à escrita de enredos e personagens cinematográficos. Ele representa, antes, uma transfiguração dos filmes em causa, cujos resultados assumem contornos por vezes quase irreconhecíveis, colocando-nos perante textos derivativos que, ainda assim, são pouco correlacionáveis, ou relacionáveis apenas de viés, com o original fílmico.
A um nível mais profundo deste processo, a volta que marca a reescrita de Ana Teresa Pereira figura-se também como uma resposta, ou, mais concretamente, como uma réplica a obras precedentes, na expressão de um mecanismo criativo que, claramente, toma o discurso literário e a forma ficcional, em alternativa à crítica ou ao ensaio, como meio de comentário, isto é, como forma de reflectir sobre si mesmo e sobre essas obras pensando com elas.

 
10.
«MURIEL, OU DA POESIA - O REENCONTRO COMO
DESENCONTRO NECESSÁRIO - RUY BELO E O CINEMA»

por TERESA BARTOLOMEI

O ensaio aborda um filme - Muriel ou o tempo de um regresso, de Alain Resnais – e um poema - “Muriel”, de Ruy Belo - associados pelo mesmo título e pelo mesmo tópico – a inextricável mistura do amor, da memória, da culpa e da saudade.
Se o encontro profundo com nós mesmos que procuramos no verdadeiro encontro com os outros, só o temos ao desencontrarmo-nos de nós, nos encontros que vemos entre os outros onde só afinal somos felizes (onde só afinal amamos plenamente: nenhures amamos tão perfeitamente como perante um ecrã de cinema), para nos encontrarmos temos que nos apropriar da nossa vida como um reencontro connosco, como estratégia para sarar uma separação e uma perda que nos são indispensáveis para sermos aquilo que desejamos.
É essencial, para entender a ligação profunda de Ruy Belo com o cinema como escola em que aprendemos a ver, reconhecer a dinâmica poética e não narrativa de concentração, selecção, condensação, que ele reconhece como dispositivo fundamental da linguagem cinematográfica.
Este é um aspecto evidenciado no encontro desencontrado entre “Muriel” e “Muriel”, filme e poema. Não é a história poderosa do amor infeliz de um par de adolescentes-flores decepados pela cegueira e os preconceitos dos adultos, nem o retrato genial de uma geração oprimida pelos tabus sexuais, as convenções sociais e os imperativos do sucesso e do desempenho, que interessa primariamente a Belo, mas a capacidade do filme de representar de forma meta-simbólica a peculiar função simbólica comum à palavra poética e à representação cinematográfica na sua expressão da experiência humana.

 
11.
«JACKIE IN THE KINGDOM OF CAMELOT»
por MÁRIO AVELAR

O ensaio debruça-se sobre Jackie, o filme do realizador chileno Pablo Larraín, em torno da mulher que introduziu a ideia de glamour no quotidiano da Casa Branca, enquadrando-o no âmbito da mediação com a realidade proporcionada pela televisão.
Partindo do diálogo que o filme realiza com o documentário White House Tour apresentado pela CBS no dia de S. Valentim de 1962, tendo como protagonista primeira-dama, o ensaio mostra como aquela personagem histórica soube recuperar toda uma tradição mítica da América, transpondo-a para a celebração do seu marido, o presidente assassinado que passa a integrar uma galeria de heróis que tem no presidente Lincoln um representante maior.
A par de temas e mitos americanos como a Terra Prometida ou a Fronteira, são aqui analisados outros importados do Velho Mundo, como o de Camelot que percorre, como subtexto, toda a narrativa fílmica.

12.
ANA HATHERLY:
PROGRAMABILIDADE E CRIAÇÃO
Conferência

A 29 de Junho de 2019, terá lugar no Auditório do Centro Cultural de Cascais a conferência “Ana Hatherly: Programabilidade e Criação”. Organizada no âmbito da Cátedra Cascais Interartes, esta conferência insere-se no projecto com o mesmo nome, dedicado ao lugar da programabilidade na obra de Ana Hatherly, e pretende interrogar o conceito de ‘programa’ na produção de objectos estéticos. O conceito de programa permite averiguar a produtividade dos mecanismos criativos associados à exploração de restrições que operam como ferramentas de composição. Das experiências visuais barrocas às estéticas algorítmicas, passando por OuLiPo ou pelo concretismo, a obra de arte, fruto de um programa criativo produtor e aberto, torna-se uma máquina geradora de novos objectos. Nesta conferência pretende-se explorar a aplicabilidade do conceito de programa a diferentes linguagens artísticas, problematizando o lugar da processualidade no acto criativo e na experiência estética. Mais informações em https://ahprogramacria2019.wordpress.com/
 

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